O que você esperaria de uma viagem pela Bacia do Rio das
Velhas? Nem sempre o que encontramos foi bonito de se ver
Foi feita uma expedição de 23 dias de navegação pelo Rio das Velhas e a partir de observações foram constatados muitos problemas.
No caminho foram vistas toras de madeira nas beiras da estrada e um caminhão lotado de eucalipto. Mas misturado a elas era possível distinguir espécies de mata nativa.
Havia locais em que a areia é retirada do fundo do rio com um barco e um “coador”. A “ferramenta” é formada por uma vara de uns três metros, com um saco de linhagem na ponta. A expectativa dos tiradores de areia é que o Projeto Manuelzão entre no debate para que a extração seja liberada. O revolvimento do fundo do rio causado pela extração de areia aumenta a turbidez da água, dificultando a entrada de luz, sem contar que pode expor resíduos antigos de mineração.
As margens do Velhas estão salpicadas de lixo. Galhos de árvores “enfeitados” com sacolas plásticas. As matas próximas ao Rio, por vezes frondosas no início da Expedição, no atual trecho do Velhas são escassas. rio catando redes que estão camufladas, para dificultar a fiscalização, em inocentes garrafas pet que bóiam pelo Rio ou em pequenos pedaços de isopor.
Santana do Pirapama não tem aterro. O lixo do município vai para outro lugar. Para um lixão fedorento, cheio de urubus, restos de bichos mortos e tomado por uma fumaça preta. Sim, o lixo é queimado e o chorume acaba chegando aos rios.
Pode fritar?
Os peixes estão voltando para o velhas.
Resta saber se há riscos em consumi-lo
O fato do peixe estar voltando para o Velhas levanta o problema de poder ser consumido ou não. Quem pesca costuma dizer que conhece bem de peixe e faz um exame a olho nu mesmo, para saber se ele está próprio para o consumo ou não.
Só que esse exame a olho nu não é o suficiente. Ele deixa muita coisa passar batido, como a presença de metais pesados e pesticidas. Para determinar exatamente os níveis de contaminação, saber em que medida eles são prejudiciais e se comer o peixe é um risco ou não, é preciso fazer uma análise complexa, relacionando a contaminação da água e a do pescado. Quem come peixe contaminado, contaminado pode ficar. Salmonelose, desinteria, cólera, intoxicações e parasitoses são alguns exemplos de doenças que podem atingir quem consome peixes contaminados. O risco existe, mas a população ribeirinha ainda não tem uma posição definida. Alguns ficam com o pé atrás, mas tem aqueles que acabam comendo. Nem parar de comer, nem comer demais. Por enquanto o ideal é ter cuidado em relação aos peixes do Velhas.
Olhar de volta
O que foi feito na Bacia e como está a situação hoje
De 2003 para cá, o que melhorou? O que continua no mesmo lugar e o que
piorou? Foram levantados alguns pontos críticos para a revitalização da bacia do Rio das Velhas.
- Em relação a disposição do lixo em toda a bacia, em 2003, a maioria dos municípios possuía lixões. Hoje, a situação é crítica no lisão desativado de Nova Lima, que despejou lixo no Rio durante as chuvas de verão. A coleta seletiva chega lentamente aos municípios do alto Velhas. No médio, ainda há problemas de lixões em alguns municípios, como Santana do Pirapama.
- Em relação a nadar na RMBH, em 2003, nadava-se no baixo Velhas, após a foz doCipó-Paraúna. Na RM BH, o nível de coliformes fecais e poluentes industriais tornava a possibilidade de nadar um atentado à vida. Houve melhorias no Arrudas, mas não o suficiente ainda.
- Em relação ao tratamento de esgoto em Belo Horizonte, em 2003, 23% do esgoto era tratado. Hoje, a inauguração do tratamento secundário, que retira a maior parte das impurezas, na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE ) do Arrudas, em 2007, é avaliada como a principal responsável pela melhora da qualidade da água do Rio das Velhas. Já em Sete Lagoas e Sabará, em 2003 estava sem tratamento, e hoje continua sem tratamento.
- Em relação a volta do peixe, em toda bacia, até a altura de Nova Lima, em 2003, predominavam tilápias no Velhas – indicadoras de poluição. Em 2009, com a inauguração da ETE Arrudas, a qualidade das águas do Rio melhorou e, gradativamente, os peixes estão voltando a ocupar a bacia, subindo em direção à nascente. Estão sendo achados dourados, matrinchãs e piaus até próximo de Nova Lima, o que não acontecia em 2003.
- Em relação ao assoreamento no alto Velhas, em 2003, era causado pela mineração na região de Ouro Preto e Itabirito, principalmente nos ribeirões Funil e Maracujá. Em 2009, não havia sinal de melhorias.
- Em relação a mortandade de peixes, entre Santa Luzia e Funilândia, em 2003, eram frequentes no início do período chuvoso. Em 2009, no trecho entre Santa Luzia e Funilândia foi encontrada uma grande mortandade de peixes.
- Em relação a navegação na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 2003, não havia navegação nem estudos para viabilizá-la. Em 2009, ainda não havia estudos para viabilizar a navegação. Há proposta de navegação turística.
- Em relação a recuperação de Mata ciliar em toda bacia, em 2003, havia desmatamento intenso a partir de Santa Luzia. Em 2009, a situação estava mais grave nos trechos da margem esquerda do Rio.
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